segunda-feira, 2 de agosto de 2010

texto 8: Falta de coerência

Vejo jovens reunidos em movimento, lembrando-me
como o “FORA COLLOR” foi uma boa manipulação de
massa por interesses econômicos, antes que de classe.
Os jovens saíam de uma escola com faixas de frases tão
amontoadas que mal se viam suas mensagens, aliás, sua
unidade. Passavam pelas ruas militando por participação,
inclusão, investimento, ou seja, capital e capital. Mas será
que neles havia coletivização de ideias, consciência social,
coerência ideológica, e será que compreenderam o
que é capital social? Parecem-me vassalos bestializados,
movidos por louvor e recreação, com Hip-Hop criativo,
cantando palavras de ordem sem entendimento nem conceitos.

Debatem sexualidade como um maniqueísmo: bem e
mal, ser hétero ou ser gay na comunidade, na religião,
quando toda religião é homofóbica.

Fotógrafos, Fecaje, prefeitura, são pretexto para o populismo,
porque é isso que a juventude em passeata representou:
uma passarela, uma propaganda da política para a
cidade. Onde não há classe social o evento público cai no
ufanismo, e viramundo, sorrisos cheios de holofote, arte
para palco, Estado como fosse um playground, cultura
provinciana para consumir cana, além de pitar, independente
se legal, num evento cultural que lembra o hipódromo
descrito por Ovídio em “A arte de amar”, também,
descrito por Kerouac e Bukowski, quando consumiam o
capitalismo, tentando o criticar; a arte se enriquece com
um fundo de miséria, enquanto a massa é oprimida e canta
na praça.

Pensei que gritavam “JUVENTUDE MARXISTA”, e que
doce ilusão eu tive! Não por eu ser doutrinado em Marx que
me animei, mas porque imaginei alguma sombra de convicção
na garotada. Era dito apenas “JUVENTUDE PARTICIPA”
(e do quê?), tão óbvia constatação oral que chega a ser
pleonasmo social. Quem se entende no andado? E quem não
se entende? O conformismo é muito pesado. Palhaços, alegria
passadista, ser massificado, somos soldados esperando
saber, viver pela pátria e morrer sem razão. Desunidos pela
união social, unem-se os jovens sem ideologia, só com o idealismo
de outros.

Tudo é exuberante, muito colorido, muito democrático, é
show, quanto mais estão na frente do palco o povo (a maioria
de fora) dança, quanto mais à frente do espetáculo, com tanto
desarranjo na organização, o produtor cultural dança também,
mas, pelo menos, todos estão em cateretê, com a viola
falando alto no peito humano.

Em meio a oficinas, bailes de palavras, um culto a quem administra,
no silêncio historiográfico, somos apenas discentes
como se fôssemos gado, pelo consenso do dissenso, da ignorância,
pela unanimidade burra, que dança no espetáculo.

O que está em voga é fotografar, filmar o mínimo de uniformidade,
escrever – bajular, aplaudir e gozar, e beber, e pitar, personificando
e elogiando o que é público, mandado, deste mandato, do
partido no poder, do voto, negação do veto, fortalecendo o subjetivismo
social, confusão de simpatia e alegria com politização.

Todos estão docemente alienados, juventude de saia justa, festa
de casais, de cantigas e nada mais, banalizando a cultura de antes
bem esquecida, misturada a tanta demagogia, negação de coerência,
cordialismo, o discurso é só culto ao ócio, o que importa é o
barulho e os versos chavões, até porque o som está ruim.

Vitor

Um comentário:

  1. Este texto mais do que nunca, é a representação fiel de toda minha indignação contra a hipocrisia destas "Lideranças criativas" que não conhecem a nossa cultura e vem com seus discursos tortos e mal acabados dizendo que vão melhorar a nossa sociedade Jovem, chamando isto de parceria em comunicação para a juventude. Como é difícil primeiro conhecer a nossa cultura para poder melhorá-la, querem incutir na cabeça dos nossos jovens culturas novas que fogem totalmente da sua realidade ética, moral, religiosa, popular e cultural.

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